O 17º Laboratório Ítalo-Brasileiro (e não só) de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva foi encerrado nesta sexta-feira, 28/2, com duas mesas redondas sobre saúde mental. As atividades foram realizadas no Instituto Gian Franco Minguzzi, ex-hospital psiquiátrico Francesco Roncati, em Bolonha. Representantes da Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), divididos em dois grupos, participaram dos dois diálogos.
Um foi pautado no enfrentamento do adoecimento e nos serviços e necessidades do setor, com os diálogos mediados pela chefe do Setor de Educação e Desenvolvimento Social da Cidade Metropolitana de Bolonha, Fabrizia Paltrinieri, e do professor e pesquisador da Universidade Federal do Semi-Árido, Ricardo Burg. O outro, conduzido pelo representante do Instituto Gian Franco Minguzzi, Luca Negrogno, e pelo professor pesquisador da Universidade do Rio de Janeiro, Emerson Merhy, esteve focado na história e em processos inovadores em saúde mental.
A programação trouxe a memória de Franco Basaglia, psiquiatra que promoveu, a partir dos anos de 1960, na Itália, abordagens revolucionárias no tratamento de pessoas com transtornos mentais. Basaglia é a principal referência do movimento brasileiro de luta antimanicomial, baseada na desospitalização e na substituição da internação em massa em hospitais psiquiátricos pelo cuidado em uma rede de serviços substitutivos.
O evento foi realizado durante cinco dias, de 24 a 28/2, em Bolonha, com atividades realizadas também em outros municípios na Emília-Romanha, região do Norte da Itália. Coordenado pela Rede Unida, associação internacional com sede no Brasil, e pela Emília-Romanha, o evento teve por objetivo a troca de experiências em saúde coletiva e o estudo de propostas de parceria para qualificar os sistemas de saúde pública nos dois países.
A vice-presidente da Rede Unida, Maria Augusta Nicoli, conduziu a abertura dos trabalhos no último dia de atividades citando a riqueza dos debates realizados ao longo da semana e as possibilidades de acordos bilaterais entre instituições do Brasil e da Itália. A próxima etapa é a elaboração de propostas que possam ser discutidas, aprovadas e implementadas a partir do interesse e da necessidade de cada parte.
“Esse é evento de extrema importância para a comunidade técnico-científica porque a colaboração entre os países e a troca de experiência entre eles ajuda na identificação daquilo que precisa melhorar e gera ideias e propostas inovadoras”, avaliou secretária municipal de saúde, Shádia Fraxe, que participou de toda a programação, tendo sido palestrante em duas ocasiões.
“A experiência vivida na Itália trouxe alguns vislumbres de como podemos melhorar em relação à saúde do idoso, por exemplo. Mas aqui também tivemos a oportunidade de ensinar muito sobre a atenção primária, sobre as políticas públicas que nós aplicamos no Brasil, sobre como utilizar bem os recursos para ter um bom resultado e atender bem a população”, disse a secretária.
Shádia destacou que os dias foram muito intensos em relação a conteúdo, com temas de extrema importância. “Hoje, no último dia, discutimos sobre saúde mental, que é um problema mundial, que tem crescido muito e para o qual nós precisamos discutir soluções que se adequem a cada região conforme o perfil da sua população”.
A secretária destacou que teve a oportunidade de demonstrar todo o serviço executado pelo município de Manaus em relação à atenção primária à saúde, principal porta de entrada da população para o sistema de saúde. “E a minha felicidade é que ficaram muito bem impressionados com tudo que viram pela dificuldade geográfica da nossa região, pelos fatores amazônicos e pelos desafios que a gente enfrenta para poder levar a saúde até os lugares mais remotos”.
Para o subsecretário municipal de Gestão da Saúde, Djalma Coelho, eventos como o Laboratório permitem o compartilhamento de modelos de trabalho para aprimoramento das práticas em saúde. “O que se encontra em outras cidades, estados e países nos ajuda a entender dentro de uma estrutura física todo o processo de trabalho que, muitas vezes, pode ser replicado em outros territórios. Com isso, podemos melhorar a eficiência na entrega dos serviços públicos à população. Além disso, oferece a possibilidade de adaptarmos à realidade de Manaus uma visão não só da integralidade do cuidado na atenção primária à saúde, mas de como ela está inserida dentro de uma rede assistencial”.
A diretora da Escola de Saúde Pública (Esap), Karina Cerquinho, ressaltou a relevância do Laboratório Ítalo-Brasileiro para a educação permanente dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS). “A formação é contínua e a troca de experiências proporciona reflexão e diferentes olhares para os processos de trabalho”, afirmou.
Segundo Karina, conhecer as experiências de Bolonha e cidades vizinhas, discutir as diferentes categorias profissionais envolvidas, ver como trabalham juntas e como as formações se complementam fortalece os processos de reflexão no campo da educação em saúde. “Para as escolas, fica, ainda, a possibilidade de fortalecer o intercâmbio de residentes entre os dois países”.
O 17º Laboratório Ítalo-Brasileiro (e não só) de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva contou com o apoio de diversas universidades e instituições, como a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e Ministério da Saúde brasileiro. Além de Manaus, participam diretamente das discussões os municípios brasileiros de Vitória, São Luís, Porto Alegre e Brasília e as cidades italianas de Bolonha, Parma e Modena.
— — — Texto – Andréa Arruda/SemsaFotos – Divulgação Semsa