Careca do INSS foi tema de intenso debate na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) em sua última sessão. O depoente Milton Salvador de Almeida Junior, um contador, negou veementemente qualquer ligação de sociedade com Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS. Durante o depoimento, ele afirmou que seu envolvimento com as empresas de Antunes se restringiu ao fornecimento de serviços de assessoria financeira e não a uma parceria empresarial.
Trabalhando por 19 anos no Grupo Paulo Octavio, Salvador foi levado à comissão por sua contratação na empresa de Careca do INSS através de sua apresentação no Linkedin. “Eu jamais fui sócio de quaisquer das empresas do Careca do INSS. Prestei serviços e, assim que fui citado, pedi imediatamente o meu desligamento”, declarou ele, tentando elucidar sua situação na CPMI.
O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar, inicialmente elogiou a atitude de Salvador por não utilizar o direito de habeas corpus. No entanto, conforme as perguntas foram se aprofundando por parte dos outros parlamentares, suas ideias mudaram. Gaspar expressou sua incredulidade com as informações fornecidas por Salvador, destacando a estranheza quanto aos altos valores das notas fiscais na contabilidade sob sua responsabilidade.
Milton Salvador relatou que, no dia em que a polícia Federal desembarcou em sua empresa em uma operação chamada Sem Desconto, ele estava de posse da informação, pois Careca do INSS estava fora do país. No entanto, ele também reconheceu que, ao longo do seu contrato, começou a notar indícios de possíveis irregularidades dentro da operação. “Eu vi notícias sobre fraudes e questionei Antunes, quem sempre negou qualquer irregularidade”, explicou Salvador, que lamentou não ter feito uma investigação mais profunda antes de aceitar o cargo.
Prontamente, Salvador tomou a decisão de encerrar o vínculo assim que teve certeza de que irregularidades estavam sendo praticadas. O deputado Duarte Jr. comentou também sobre a possibilidade de que Salvador, ao permanecer no cargo mesmo com desconfianças, poderia estar incorrendo em um “dolo eventual”, um tipo de crime onde a pessoa não planeja o crime, mas se arrisca a cometê-lo.
A convivência de Salvador com associações que manipulavam descontos em benefícios, como a Associação dos Aposentados Mutualistas e a Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura, não se deu de maneira direta. Ele alegou que Antunes era o responsável por informar os valores a serem pagos pelas associações, e que iriam diretamente para seu setor financeiro.
De acordo com seus cálculos, as movimentações financeiras em que ele esteve envolvido giravam em torno de R$ 10 milhões mensais. A gestão contábil era terceirizada e Salvador soube da relação de Antunes com uma offshore. Durante esse tempo, supostamente ofereciam serviços de assessoria técnica, incluindo telemedicina, mas ele se mostrou descrente quanto à real execução desses serviços.
Ao ser interrogado sobre a postura de Antunes, Salvador concordou com a análise do senador Jorge Seif, que considerou o negócio de Antunes uma verdadeira “indústria de fraudes” contra aposentados e pensionistas. Salvador reconheceu que suas interações com o sistema político eram nulas até aquele momento, mais uma vez relevando seu distanciamento das questões do INSS e da atuação de parlamentares.
Um ponto de discórdia surgiu quando o deputado Paulo Pimenta expressou suas reservas quanto à inocência de Salvador, sugerindo que a complexidade do esquema criminal que o envolvia e a contratação evidenciada através de um currículo online deveriam levantar alarmes quanto à sua responsabilidade.
Izalci Lucas, senador e contador, questionou diretamente sobre o controle das notas fiscais emitidas por Salvador, que admitiu que sua função se limitava a assinar os documentos, delegando a supervisão para outros setores. Isso apenas levou à credulidade de que ele não percebia as anomalias nas operações.
Carlos Viana, presidente da CPMI, ressaltou a importância de dar respostas à sociedade sem se perder em disputas ideológicas. Sua declaração refletiu um compromisso com a transparência e a justiça, reafirmando que a suspensão da comissão não é uma opção. Esse cenário se torna mais relevante, pois reiterou que a CPMI não irá parar e terá continuidade na busca por responsabilidade no caso Careca do INSS.