Médicos pediatras que atuam na Atenção Básica no município participaram, na manhã desta sexta-feira, 8/8, no complexo de saúde Oeste, bairro da Paz, zona Oeste, de uma capacitação para o “Cuidado às Crianças Expostas ao HIV”, coordenada pela Secretaria Municipal de saúde (Semsa), da Prefeitura de Manaus.
Em uma média anual, o município registra entre 200 a 250 crianças que nascem expostas ao HIV, o que ocorre quando a gestante tem o diagnóstico da doença, podendo transmitir para o bebê na gestação, parto ou amamentação (transmissão vertical).
A técnica do Núcleo de Controle de HIV/Aids, Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e Hepatites Virais da Semsa, enfermeira Ylara Costa, explica que, atualmente em Manaus, o atendimento de crianças expostas ao HIV é realizado na Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, bairro Dom Pedro (zona Oeste), instituição de referência na REDE estadual.
“Para ampliar a oferta do serviço no município, facilitando o acesso ao atendimento, a Semsa promoveu a capacitação de profissionais que atuam em unidades de saúde da REDE municipal. A intenção é que até o final de agosto a população tenha acesso ao serviço em quatro unidades que contam com os Serviços de Assistência Especializada (SAEs) no atendimento às pessoas vivendo com HIV”, informou Ylara.
O atendimento em seguimento especializado para crianças expostas ao HIV deve ser realizado por no mínimo um ano e seis meses, como forma de identificar precocemente se houve a transmissão vertical do HIV.
“Descentralizar o atendimento das crianças é uma estratégia para reduzir possíveis barreiras de acesso ao serviço. Famílias em vulnerabilidade social podem ter dificuldade de acesso pela distância entre a residência e o serviço de saúde, considerando a logística e gastos de transporte. Então, foi planejada a descentralização para que crianças expostas ao HIV possam fazer o acompanhamento no mesmo local em que as mães já recebem o cuidado em saúde”, destacou Ylara Costa.
A capacitação reuniu 35 médicos pediatras, incluindo profissionais que atuam nas quatro unidades de saúde que contam com os SAEs, nas oitos unidades de saúde que realizam o manejo clínico de pessoas vivendo com HIV e nos Ambulatórios de Seguimento do Bebê de Alto Risco.
Os temas abordados na capacitação foram os seguintes: Introdução ao HIV e Transmissão Vertical, Protocolos de profilaxia e tratamento, Acompanhamento de crianças expostas ao HIV, Boas práticas na Atenção à saúde da Crianças, Gestão e monitoramento de dados, Casos clínicos e estudo de casos.
“A intenção inicial é ampliar o serviço para os SAEs, mas capacitamos pediatras de outras unidades de saúde que poderão no futuro também oferecer o atendimento às crianças expostas ao HIV. São unidades de saúde que já contam com a estrutura básica para a oferta do atendimento”, esclareceu Ylara Costa.
Transmissão vertical
Durante a capacitação, o médico infectologista Bruno Araújo Jardim, que atua no Núcleo de Controle de HIV/Aids, ISTs e Hepatites Virais, salientou que o objetivo da capacitação é orientar os profissionais sobre a avaliação adequada da situação de saúde da criança para a definição do diagnóstico, seja positivo ou negativo para a infecção pelo HIV, assim como a definição do tipo de acompanhamento e eventual tratamento.
“Se houver a identificação confirmada da transmissão vertical do HIV, a criança vai precisar de acompanhamento e tratamento com terapia antirretroviral. Hoje, a infecção pelo HIV ainda é uma condição crônica, o que significa que é necessário um seguimento regular no acompanhamento do paciente e tratamento sem prazo definido”, apontou Bruno Jardim.
O médico enfatizou que a prevenção à transmissão vertical é possível quando a paciente com HIV realiza o acompanhamento adequado da situação de saúde durante o pré-natal, com as consultas, exames e tratamento regular com a terapia antirretroviral.
“As chances de transmissão vertical do HIV são muito pequenas quando a gestante chega com carga viral indetectável no terceiro trimestre de gestação e no parto”, garantiu Bruno Jardim.
Servidora da unidade de saúde da Família (USF) Arthur Virgílio Filho, onde é realizado o manejo clínico de pessoas vivendo com HIV, a pediatra Priscilla Lima Bezerra participou da capacitação e destacou a importância da descentralização do atendimento na adesão ao tratamento de doenças.
“Sempre é bom poder descentralizar o atendimento na atenção básica, encaminhando para a atenção especializada apenas quando há uma demanda mais específica. E isso ajudará na maior adesão ao tratamento porque o paciente vai ter que se deslocar em menor distância da residência e PODE seguir com o acompanhamento na unidade de saúde no próprio bairro”, enfatizou a médica.
Desde 2017, o município de Manaus registrou 23 casos de HIV (vírus que causa a infecção e atinge o sistema imunológico) em crianças menores de cinco anos, o que é considerado como transmissão vertical. Nesse período, o município também registrou, na mesma faixa etária, 33 casos de Aids, que é a infecção do HIV em estágio avançado e a criança já apresenta um comprometimento grave do sistema imunológico.
— — —
Texto – Eurivânia Galúcio/Semsa
Fotos – Divulgação/Semsa