Debate sobre racismo recreativo, religioso e na mídia encerra curso de letramento racial

Portal O Judiciário Redação

08/11/23 – O Tribunal Superior do Trabalho encerrou, nesta terça-feira, o curso “Letramento Racial: reeducar para construir”. Iniciado em agosto, a iniciativa se propôs a estimular o combate a atitudes racistas. Na última mesa redonda, os temas abordados foram o racismo recreativo, o racismo na mídia e o racismo religioso.

Racismo recreativo

Winnie Bueno

“O humor racista também é um discurso de ódio”, afirmou a  pesquisadora e ativista antirracista Winnie Bueno. Para combatê-lo é necessário, sobretudo, um processo educativo e um compromisso ativo. “Quando estamos perante uma ação desse tipo, temos de ter a responsabilidade de nos posicionar”, defendeu. 

Segundo Winnie, no ambiente de trabalho ocorrem dinâmicas de microagressões, com piadas racistas e atitudes que se escondem na ideia do humor. “Geralmente, são uma maneira de expressar comportamentos racistas de forma indireta”, avalia. 

Para a pesquisadora, o racismo recreativo é uma forma de manutenção de um sistema de violência que, muitas vezes, impossibilita as pessoas de trabalhar e torna o ambiente de trabalho hostil, com impacto nos resultados. “Ainda é muito difícil tipificar o racismo recreativo, mas o próprio Tribunal Superior do Trabalho já reconheceu essa prática como racista”, lembrou, ressaltando a necessidade de políticas públicas e corporativas para que, finalmente, esses tipos de comportamento possam ser diretamente responsabilizados. 

Racismo na mídia

Rosane Borges

A jornalista e doutora em Comunicação e Linguagem pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Rosane Borges destacou que a questão racial está no epicentro de preocupações que envolvem toda a sociedade. “Quando se fala sobre esse tema, parece que é algo que diz respeito apenas a comunicólogos, jornalistas, publicitários, mas não. A mídia é um vetor importante que constrói visibilidades e ideais culturais”, afirmou. Trata-se, a seu ver, de um debate importante, que envolve o reconhecimento da humanidade de pessoas que não eram vistas. “Essas pessoas não eram relatadas no jornalismo, não estavam nas peças publicitárias”.

Um dos exemplos citados por ela de um caso invisibilizado pela mídia ocorreu em dezembro de 2015, quando um carro com jovens negros foi alvejado com 111 tiros de fuzil no Rio de Janeiro.  “Aquilo só aconteceu porque eram jovens negros. E, quando isso aconteceu, a gente não reagiu a uma das piores tragédias criminosas da nossa contemporaneidade. O mundo estremeceu com George Floyd, mas não estremeceu com os 111 tiros disparados pela polícia”, comparou.

Racismo religioso

André Luís Nascimento

O vice-coordenador do Centro de Estudos Afro Orientais (CEAO), André Luís Nascimento, analisou o racismo religioso a partir do olhar das comunidades tradicionais de terreiro. Para isso, abordou a parte histórica dos primeiros casos de perseguição policial a terreiros, no final do século XIX e início do século XX, e de todos os processos de luta e resistência desses povos. “No Brasil, mais do que intolerância religiosa, o que sobra às religiões de matriz africana e às suas variantes são violações de direitos potencializadas em razão da origem negra dessas religiosidades”. 

(Nathália Valente/CF)
 

Compartilhe este arquivo