21/09/2023 – 17:09
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Comissão de Saúde promoveu debate sobre impactos de exposição às redes sociais
Debatedores alertaram nesta quinta-feira (21) para os impactos nocivos da alta exposição às redes sociais na saúde mental de jovens. Segundo eles, a ampla adesão ao ambiente virtual pode endossar um padrão de beleza irreal (livre de estrias, celulites e gordura) com impactos no aumento do sofrimento psíquico.
O assunto foi tratado em audiência pública da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados.
Os jovens dos 16 aos 24 anos têm os menores índices de qualidade de saúde mental quando comparados a outras faixas etárias, segundo levantamento do Instituto Cactus, que atua na prevenção de doenças mentais.
Representante do instituto na audiência, Bruno Ziller defendeu ações de prevenção, como a moderação de conteúdo para jovens e a educação sobre como o mundo virtual pode distorcer a realidade. “A maior parte dos transtornos mentais não são biológicos, mas determinantes sociais. A gente pode então incidir para mitigar alguma condição mental para que ela dure menos ou se agrave menos”, disse.
O uso excessivo de redes sociais pode levar não só a problemas de atenção, sono e sentimento de pertencimento. “É por isso que especialistas defendem estabelecer um limite de tempo de uso para incentivar que o jovem desenvolva atividades fora da tela”, complementou Ziller.
Sobre iniciativas para mitigar os impactos de ferramentas virtuais, a executiva da Unilever, Thais Hagge, falou de campanha promovida pela empresa na qual influencers passaram um período sem usar filtros em suas publicações, alertando para o fato de que rostos e corpos perfeitos não existem.
“Não é uma questão sobre usar ou não filtro, mas entender os impacto que a distorção de imagem pode gerar na autoestima, principalmente para as meninas mais jovens”, disse.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Thais Hagge: jovens precisam entender impacto dos filtros na distorção da imagem e na falta de autoestima
Hagge apresentou levantamento da Unilever mostrando que 97% dos jovens de 10 a 17 anos entrevistados foram expostos a conteúdos tóxicos de beleza nas mídias sociais. Desses jovens, 74% disseram que foram expostos a conteúdos que incentivam a perda de peso.
A deputada Rosângela Moro (União-SP), que solicitou a audiência, também acredita que a necessidade de exibir uma imagem perfeita pode impactar na saúde psíquica. “Esse padrão de beleza estabelecido pela cultura das redes sociais muitas vezes promove uma imagem que é idealizada e inatingível, e isso pode ter sérios efeitos na saúde mental”, disse.
Alfabetização emocional
Representante da Secretaria de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Maria Aparecida Cina da Silva destacou a dificuldade de se falar das emoções, um tema que, segundo ela, ainda é considerado tabu no ambiente familiar e escolar.
“É impossível estabelecer qualquer aspecto de saúde, se a gente não fala de um processo de alfabetização emocional”, frisou.
Nessa mesma linha, a psicóloga e pesquisadora da PUC-Rio, Joana de Vilhena Novaes, falou da positividade tóxica presente nas redes sociais, a qual desencadeia sentimento de inadequação nos jovens.
“Precisamos falar sobre dor e sofrimento dos nossos jovens e precisamos falar sobre isso nas escolas, não só no âmbito dos consultórios particulares”, disse. “Ter uma vida instagramável, sem sofrimento, não diminui a ansiedade dos jovens”, completou a psicóloga.
Reportagem – Emanuelle Brasil
Edição – Geórgia Moraes