Gol é condenada por dispensar mecânico dependente químico

Vívian Oliveira
Vívian Oliveira
O mecânico trabalhava na Gol havia mais de dez anos quando foi dispensado (Foto: Rovena Rosa/ABr)
Da Agência TST (Tribunal Superior do Tabalho)

BRASÍLIA – O TST rejeitou o exame de um recurso da Gol Linhas Aéreas S.A. contra decisão que considerou discriminatória a dispensa de um mecânico de manutenção aeronáutica que estava em tratamento de doença psíquica por dependência química. Para a Sexta Turma, o caso não se enquadra nos critérios de transcendência. 

Dispensa

O mecânico trabalhava na Gol havia mais de dez anos quando foi dispensado, em agosto de 2017. De 2015 a 2016, ele esteve afastado por auxílio-doença e, na época da dispensa, buscava a renovação do benefício.

Segundo ele, a empresa tinha ciência de seu problema de saúde e da necessidade de tratamento contínuo, e a dispensa fora discriminatória.

A Gol, em sua defesa, sustentou que o empregado não tinha estabilidade e que a dependência química não é doença estigmatizante que motive preconceito do empregador e da sociedade. 

Discriminação

O juízo de primeiro grau e o TRT10 (Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região) consideraram discriminatória a dispensa e condenaram a empresa ao pagamento de R$ 10 mil de indenização, além do dobro da remuneração do empregado entre a dispensa até a data da publicação da decisão. 

Segundo o TRT, os receituários e os relatórios médicos comprovavam que o mecânico estava em terapia psicológica dias antes de ser demitido, e a Gol não apontou outro motivo para a medida, o que deixava evidente que a razão seria o fato de ele ser dependente químico e estar afastado para tratamento.

Sem transcendência

O relator, ministro Augusto César, ressaltou que a controvérsia diz respeito ao caráter estigmatizante da dependência química, que seria capaz de gerar a presunção de dispensa discriminatória e também ao valor da indenização. A seu ver, o caso não apresenta os indicadores das transcendências social, jurídica, econômica ou política. 

Segundo o ministro, por se tratar de apelo empresarial, e não do empregado, está descartada a transcendência social. Também não se discute questão inédita acerca da legislação trabalhista, o que afasta a transcendência jurídica. “Não bastasse isso, não está configurada qualquer dissonância entre a decisão regional e o entendimento da súmula do TST ou do STF que configure a transcendência política”, explicou.

Em relação à transcendência econômica, o ministro assinalou que, não havendo indicação clara acerca de qual fração do valor da causa corresponderia à pretensão recursal, é inviável o seu reconhecimento. Observou que a Sexta Turma tem entendido, com ressalva de seu entendimento que, independentemente dos valores da causa e da condenação, não é possível o seu reconhecimento quando os demais critérios de transcendência estão ausentes e não há matéria a ser uniformizada pelo TST.

A decisão foi unânime.

ProcessoAIRR-645-42.2019.5.10.0006

Legislação: Súmula 443/TST

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