Novos desembargadores destacam desafios enfrentados na trajetória profissional e o sentimento de alegria e de responsabilidade com que assumem as novas funções

Portal O Judiciário Redação

Ambos com mais de 30 anos de magistratura, Cezar Bandiera e Mirza Telma, foram empossados nesta sexta-feira, como novos membros do Pleno do TJAM.

Os discursos de posse dos novos desembargadores do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), Cezar Luiz Bandiera e Mirza Telma de Oliveira Cunha, durante a solenidade realizada nesta sexta-feira (8/10), foram carregados de emoção, lembranças da superação de momentos difíceis, sentimentos de conquista e homenagens a pessoas amadas, inclusive algumas que já se foram, as quais tiveram grande relevância em suas trajetórias pessoais e profissionais.
Primeiro a tomar posse, o desembargador Cezar Luiz Bandiera começou seu discurso pontuando que o destino fez com que a cerimônia ocorresse de forma peculiar, por meio presencial e virtual, pois a atual crise sanitária impossibilita que amigos e familiares estivessem presentes nesta oportunidade. “Quero proclamar minha solidariedade a todos que sofreram de alguma forma com essa pandemia. A perda de parentes e amigos tem sido angustiante, porém, tenho a certeza de que a fé e a crença em um ser maior nos dará forças para continuarmos nossa luta diária. Também a profunda dor e sentimento com a perda dos irmãos que partiram antecipadamente. Muitos amigos queridos, colegas de toga, servidores, advogados e tantos do convívio pessoal. Por outro lado, registro elogio aos profissionais da área de saúde, bravos e destemidos guerreiros que enfrentaram a pandemia desconhecida com o seu sacrifício pessoal. Tenho fé que logo voltaremos ao nosso convívio normal, pelos corredores dos fóruns, através das audiências, podendo sentir mais de perto as angústias das vítimas, os olhos das testemunhas e o sofrimento daqueles que batem às portas de nossa justiça”, disse o magistrado.
Cezar Bandiera lembrou que o Poder Judiciário do Amazonas completou 130 anos recentemente, e que há 41 anos integra a instituição, acompanhando seus avanços tecnológicos. “Foi uma longa caminhada até este momento, sempre procurando dar aos jurisdicionados acolhimento, celeridade com um constante anseio do acerto, da realização da justiça e muito trabalho. Nos seus 130 anos de existência, nossa instituição avançou da pena, com a escrita no papel, passando pela máquina de escrever, agora com a virtualização do processo nas telas de computador. Nestes tempos em que os direitos decorrentes da cidadania se expandem à limites nunca antes imaginados, tempos em que vivemos a banalização da vida, ataques à liberdade dos cidadãos, estamos na quarta revolução industrial, com o advento da inteligência artificial e computação cognitiva. Na minha modesta visão, devemos passar a aplicar essas ferramentas como importantes instrumentos para prestação jurisdicional mais célere e previsível, certamente com ganhos para a sociedade”, comentou.
Ele citou que o Poder Judiciário, sob a presidência do desembargador Domingos Jorge Chalub Pereira, vice-presidência da desembargadora Carla Reis e corregedoria da desembargadora Nélia Caminha Jorge, “enfrenta galhardamente essa pandemia, comandando de forma inovadora a gestão com o trabalho remoto, resultando altamente produtivo e colocando nossa instituição na vanguarda do País; ficará marcado na história o quanto de inovação resulta dessa gestão, com a mudança dramática na forma de prestar jurisdição, agora retomando a forma presencial, todavia, nesse momento de pandemia, foi gerado um capital intelectual que ao meu sentir muda definitivamente a forma de atuação”.
O magistrado contou que ao longo dos anos de Tribunal de Justiça teve a oportunidade de trabalhar com grandes colegas e servidores pelas Comarcas de Parintins, Manacapuru, Benjamin Constant, e com os quais muitas experiências foram trocadas e ensinamentos adquiridos, e também com membros do Ministério Público do Estado (MPE/AM), onde sempre teve uma atuação proficiente e produtiva pautada na ética e na lei, com grandes promotores de Justiça que teve a honra de trabalhar.
Bandiera fez, ainda, uma referência especial aos jurisdicionados do interior. “Tenho muito a agradecer aos irmãos humildes desvalidos do Alto Solimões, os quais conheci durante o estágio do Projeto Rondon, um contato, uma visão transformadora. Vir para o Amazonas serví-los passou a ser a minha meta, pois penso que a jornada humana sem amor e compaixão aos desvalidos, não tem sentido, e o valor inestimável da Justiça aos pobres não tem medidas. A Justiça acende e reacende as esperanças dos cidadãos, proteção necessária de ver seus direitos garantidos ou recuperados, pois o Poder Judiciário é a primeira e a última porta que socorre o cidadão. Entretanto, os deveres do magistrado não deveriam advir de uma imposição do CNJ ou da presidência do Tribunal, pois o magistrado deve ter consciência que somente poderá distribuir Justiça a partir do momento em que conhece a realidade e o drama da condição humana”, destacou.
O desembargador agradeceu a escolha de seu nome pelos membros da Corte do Poder Judiciário do Amazonas para assumir o cargo pelo mérito do merecimento. “Aos excelentíssimos membros deste Egrégio Tribunal, que honrosamente agora integro, não tenho palavras para exprimir a dimensão da minha gratidão ao reconhecerem meu trabalho e minha história pessoal, promovendo-me por merecimento. Por certo, se hoje cheguei até aqui, sem dúvida devo muito aos excelentes mestres, aos educadores que ajudaram em minha formação intelectual acadêmica, e também as preciosas lições por vezes de anônimos cujos caminhos cruzamos”, discursou.
A parte final do seu discurso foi marcada pela emoção ao falar da sua família. Saudou a mãe, que do alto dos seus 95 anos de idade acompanhou, de Porto Alegre (RS), a cerimônia de posse, por meio do canal do TJAM no YouTube. Em seguida, homenageou a memória do pai, Raimundo Guerino Bandiera e da irmã, a professora Lourdes Maria, recentemente falecida: “Uma inspiração e orientação intelectual, minha querida irmã legou uma obra consistente à nação brasileira em questões de gênero, quanto as mulheres oprimidas”. Citou ainda, a esposa, a desembargadora Graça Figueiredo, e os filhos.
Sonho de menina
A desembargadora Mirza Telma de Oliveira Cunha, com mais de 32 anos de magistratura, iniciou seu discurso registrando que ser juíza era um sonho que alimentava desde criança. “Sabem aquela célebre pergunta que os adultos fazem às crianças: ‘O que você quer ser quando crescer?’ Eu sempre respondia: vou ser juíza! Eu sequer sabia o que era ser juíza quanto mais da existência de desembargadores, mas alguma coisa dentro de mim dizia que eu ia ser juíza e eu trilhei esse norte”, comentou ela, que anos depois descobriu que para ser magistrada precisava cursar uma faculdade de Direito e, ao término da fase universitária, foi aprovada no concurso para juiz, em 1989.
Lembrou dos desafios do início da carreira, no longínquo Município de Santo Antônio do Içá (AM), onde, entre outros obstáculos, precisou enfrentar a solidão e a saudade da família. Mencionou o trabalho na capital, já promovida à segunda entrância, e onde por muitos anos atuou como juíza de Varas Criminais e do Tribunal do Júri, enfrentando ameaças, as quais, no entanto, jamais a fizeram desistir do seu trabalho. “Hoje, é mais um sonho realizado, é mais um caminho e um norte que eu trilhei na minha vida e que Deus me abençoou para receber. É um momento único na minha vida, de muita felicidade, eu sei, não só para mim, mas para todos que me cercam. É difícil falar de tudo o que eu vivi, pois são muitas recordações”, relatou a desembargadora, destacando que, após 32 anos estava novamente com o coração cheio de alegria e gratidão como no dia em que foi aprovada para o concurso da magistratura.
Mirza também expressou agradecimentos a Deus e, bastante emocionada, lembrou do falecido pai, o sargento José Marques da Cunha. Presente ao auditório, a mãe da desembargadora também foi destacada. “Agradeço a minha mãezinha Elza Marques de Oliveira Cunha, essa mulher tão pequenina, de aparência tão frágil,mas não se engane: ela é muito grande. É uma guerreira, esteio da nossa família e se hoje estou aqui em grande parte é graças a ela que nos criou sozinha, com muita luta, dor e sacrifícios, e mesmo depois de me tornar juíza continuou e continua a me dar apoio. Minha mãezinha, sem você sequer seria o que sou, quanto mais estar aqui hoje”, disse a desembargadora. Fez ainda um agradecimento especial aos irmãos – Marco Antônio, Ana Cristina e Iêda – e dirigiu-se aos filhos, Adriano Cunha Trigueiro e Stela Oliveira Cunha: “Sei o quão foi difícil para vocês as minhas ausências, os meus estresses e suas vidas presas e limitadas, devido aos perigos e ameaças que a minha vida profissional nos deu. Meu pedido de desculpas e meus agradecimentos a vocês que são a razão do meu viver!”. Finalizou agradecedo ao apoio do marido.
“A minha vida é feita de todos vocês, família e amigos. Meu muito obrigada a todos”, disse a magistrada, parabenizando o colega desembargador Cezar Bandiera pelas ascensão ao cargo, e ao desembargador Flávio Humberto Pascarelli Lopes “pelo belo discurso de boas- vindas ao nobre Colegiado desta Egrégia Corte de Justiça!”.

 #PraCegoVer: Na imagem, uma mão segura um celular onde aparece, na tela, o convite para a cerimônia de posse dos desembargadores Cezar Luiz Bandiera e Mirza Telma de Oliveira Cunha; ao fundo, aparece a bandeira do Brasil

Paulo André Nunes
Fotos: Chico Batata
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