Live sobre os riscos psicossociais do trabalho pós-pandemia teve mais de mil visualizações
Organizada pelo Programa Trabalho Seguro da Justiça do Trabalho, e promovida pelos TRTs da Região Norte, a live de tema “Riscos psicossociais do trabalho pós-pandemia” foi realizada na tarde da última quinta-feira (16/7), e teve como convidado o psicólogo Cristiano Nabuco, Doutor em Psicologia Clínica pela Universidade do Minho (Portugal) e Pós-doutor pela Universidade de São Paulo. O evento foi transmitido no canal oficial do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (Amazonas e Roraima) no YouTube, com o apoio do TRT8 (Pará e Amapá) e TRT14 (Rondônia e Acre).
Em um formato dinâmico com perguntas feitas para o convidado, a live durou cerca de 1h10 e obteve 1.049 visualizações, contando com a participação simultânea de 255 internautas, que interagiram com comentários e perguntas.
O jornalista Celso Gomes, secretário de Comunicação do TRT14, foi o mediador do evento, que contou com a participação da Ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Delaíde Alves Miranda Arantes, coordenadora do Programa Trabalho Seguro; da desembargadora Márcia Nunes da Silva Bessa, gestora nacional do Programa Trabalho Seguro e representante da Região Norte; dos gestores regionais do Programa Trabalho Seguro dos TRTs da 8ª Região, juiz Raimundo Itamar Júnior; da 11ª Região, juiz Sandro Nahmias; e da 14ª Região, juíza Silmara Negrett.
Antes da exposição do convidado, a ministra do TST Delaíde Arantes explicou o Programa Trabalho Seguro e falou sobre a maratona de transmissões ao vivo com o tema “Construção do trabalho seguro e decente em tempos de crise”, realizada pelo Programa do TST para marcar o Dia da Prevenção de Acidentes do Trabalho, celebrado em 27 de julho. “As lives tem abordado temas relacionados ao momento que vivemos, com questões sobre saúde física e mental, como lhe dar com a crise, trabalho remoto e riscos no pós pandemia. Tenho a esperança como palavra final nesta mensagem, e que em breve retornaremos ao normal, ainda que seja ao novo normal. Que tenhamos aprendido sábias lições que possam nos transformar em pessoas melhores e mais humanas, rumo a construção de uma sociedade mais justa, mais humana e mais solidária”, afirmou a ministra.
A gestora nacional do Programa Trabalho Seguro e representante da Região Norte, desembargadora Márcia Nunes da Silva Bessa, em suas considerações iniciais falou um pouco sobre a covid19 e os desafios do teletrabalho. “Há mais de 100 dias nossa rotina foi alterada pela covid19. O nosso lar se tornou o centro do nosso universo, passando também a ser o nosso local de trabalho. Nos tornamos reféns da tecnologia, da internet, da whatsapp, das videoconferências. Diante de tudo isso ficou evidente o nosso despreparo para lidar com esta nova rotina e com o teletrabalho. Pesquisas apontam que esta nova modalidade de trabalho, que é o home office, veio para ficar. Será mesmo? Deixo aqui um questionamento: o teletrabalho pode ser causa de estresse e com isso desencadear doença ocupacional? Temos muito o que refletir a este respeito”, disse.
Com 15 livros publicados sobre psicologia, psiquiatra e saúde mental, o palestrante Cristiano Nabuco respondeu diversas perguntas durante a live. Explicou porque uma pandemia mexe emocionalmente com as pessoas e o que deve ser feito para preservar a saúde física e mental do trabalhador. Para ele, ter controle sobre a vida e planejar as atividades traz para o nosso cérebro uma sensação que aquietação. Porém, com a pandemia, não conseguimos ter controle de nada, nem conseguimos responder perguntas básicas que fazíamos diariamente e sempre tínhamos a resposta. “Não saber sobre o dia de amanhã e não ter respostas para perguntas simples e rotineiras faz com que a nossa realidade seja interrompida e várias regiões do nosso cérebro sejam ativadas, processando o alarme, a sensação de medo e ansiedade. Tudo isso faz com que estejamos ansiosos e preocupados em grande parte grande parte do dia, e isso começa a criar um contágio psicológico. Pessoas compram remédios desnecessários e em excesso, começam a estocar comida e o processo de desorganização mental fica tão intenso que as pessoas atingem um quadro de exaustão e de estresse”.
A importância da rotina
Ainda durante a live, o psicólogo que atualmente coordena o Núcleo de Dependentes em Tecnologia do Instituto de Psiquiatria da USP e é Consultor Técnico do Governo Federal para o Programa Reconecte falou que este é um momento único em nossa realidade, sendo, talvez, a pior situação que já vivemos, pois não temos controle algum do que vai acontecer. Ele sugere o que pode ser feito: “é importante que nós tentemos realizar ou criar uma rotina que seja parecida o máximo possível daquela que tínhamos antes da pandemia. Acordar no mesmo horário, fazer as refeições, dormir, etc. Na medida em que eu mantenho a rotina, eu passo para o cérebro que as coisas, embora não estejam muito bem, eu ainda tenho algum controle do meu cotidiano. Outra coisa muito importante que também precisamos fazer é nos proteger das informações. Devemos, sempre que possível, fugir do bombardeamento e proteger o nosso cérebro da super estimulação”, defende o palestrante.
O palestrante falou também sobre os limites do teletrabalho e a importância da desconexão. “Podemos fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas a atenção dada será dividida entre as atividades realizadas. É muito diferente de quando fazemos uma coisa de cada vez, com atenção plenamente voltada para ela. Muitas vezes eu preciso deixar o celular em outro cômodo da casa porque já foi comprovado que ele reduz em 30% minha atenção só pelo fato de estar próximo. Nós precisamos de rotinas físicas e mentais. É preciso haver limite e interrupção do trabalho”.
Repensar o sentido da vida
Ao ser questionado sobre como será a vida do trabalhador pós-pandemia, quais os efeitos mais agudos que ela provocará no ser humano, o psicólogo falou sobre repensar o sentido da vida, refletir sobre os motivos que nos deixam felizes e olhar para nossa vida de maneira mais respeitosa, entendendo que nossa existência é finita. Para ele, vivemos um momento de mudanças, e elas devem começar, principalmente, dentro de nós.
“Nós nunca vivemos nada igual. Estamos hoje de frente para o espelho, olhando para nossa realidade como nunca olhamos antes. Somos obrigados a olhar para nossos cônjuges e filhos e lidar com questões que deixávamos para resolver depois. Usávamos nosso trabalho como um grande refúgio, mas hoje eu sou obrigado ficar em casa e resolver os problemas dos quais fugíamos ao ir para o trabalho”, analisa o psicólogo.
E acrescenta: “A pandemia nos mostrou que sejamos ricos ou pobres, cultos ou incultos, nós não teremos respiradores. A vida nos colocou numa circunstância tão igual que temos que repensar o nosso sentido de vida, a nossa felicidade. Devemos nos perguntar o que nos faz feliz, o que nos faz florescer enquanto pessoa, enquanto ser humano. Isso fará toda a diferença e nos salvará de toda a pandemia da saúde, da pandemia social, da pandemia psicológica e o sentido do florescimento será exatamente aquilo que eu farei depois que todo esse período passar, onde eu me sentirei digno diante de mim mesmo, de meus colegas e da minha família”.
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ASCOM/TRT11Texto: Martha ArrudaEdição de imagem: Rita MaquinéEsta matéria tem caráter informativo, sem cunho oficial.Permitida a reprodução mediante citação da fonte.