Iniciativa do “1.º Juizado Maria da Penha”, do TJAM, a atividade integrou a programação multidisciplinar organizada para a “21.ª Semana Justiça pela Paz em Casa”.
Com seu aparelho celular a aluna Juliana Araújo de Oliveira, de 17 anos, acessou por meio de um QRCode de um cartaz fixado nas paredes de uma das salas da Escola Estadual Ângelo Ramazzoti, em Adrianópolis, zona Centro-Sul, a recém-lançada cartilha virtual “Precisamos Falar de Relacionamento”. Na mesma sala, outros jovens, entre 15 a 17 anos, do ensino Médio, esperavam a sua vez para copiar o código e acessar a publicação, elaborada pela Equipe de Atendimento Multidisciplinar do 1.º Juizado Especializado no Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (“1.º Juizado Maria da Penha”), do Tribunal de Justiça do Amazonas”, que esteve no local apresentando aos adolescentes, na manhã desta quarta-feira (17/8), no projeto “Maria Vai à Escola”.
A atividade integra as ações da “21.ª Semana Justiça pela Paz em Casa”, programa idealizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e que, no TJAM, tem à frente a Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência, coordenada pela vice-presidente da Corte, desembargadora Graça Figueiredo.
“Achei bem interessante disponibilizar a cartilha pelo QRCode porque nós, nessa idade, achamos mais fácil interagir por meio tecnológico. Foi uma boa ideia da equipe do Tribunal de Justiça fazer com que pudéssemos interagir de alguma forma. É bem melhor assim e ficou mais prático realmente”, disse Juliana, que elogiou a iniciativa de se levar a discussão sobre relacionamentos abusivos à escola. “Achei interessante esse assunto ser discutido aqui no Ângelo Ramazzoti porque há muitas pessoas que não têm esse conhecimento ou não dão muito valor a esse assunto que é bem importante, ainda mais neste mês que se combate a violência contra a mulher”, disse a aluna do 3.º ano do ensino Médio.
A Equipe Multidisciplinar do “1.º Juizado Maria da Penha” – que funciona no Fórum Ministro Henoch Reis, no Aleixo, zona Centro-Sul – esteve na escola Ângelo Ramazzoti representada pela assistente social Celi Cristina Nunes Cavalcante; a psicóloga Suzy Guimarães; os servidores Julian Silva e Jacqueline Beckman e pela estagiária de Psicologia Juliane de Souza Brandão.
Dentro do tema “Conversando sobre Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher”, além da apresentação da cartilha a equipe apresentou aos alunos uma série de atividades multidisciplinares voltadas à conscientização da sociedade sobre a importância do combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, como rodas de conversas que visam a conscientizar e a interromper o ciclo de violência. Houve dinâmicas nas quais os alunos eram incentivados a responderem perguntas relacionadas à relacionamentos abusivos feitos de forma físicas, verbais, psicológicas, chantagens emocionais e proibições, ou seja, sinais que mostram desrespeito à liberdade e respeito mútuo.
Outros graves problemas como a violência sexual e o vazamento de nudes e o stalking (termo em inglês que significa a ação de perseguição deliberada e reiterada perpetrada por uma pessoa contra a vítima) foram debatidos pela comissão disciplinar com os alunos da Escola Estadual Ângelo Ramazzoti. Foi exibido um vídeo em formato de desenho animado mostrando um exemplo de relacionamento tóxico.
Para reflexão
A estudante Ingrid de Souza, de 15 anos, do 1.º ano do ensino Médio, elogiou as palestras e disse que eventos do tipo são necessários para “se aprender e refletir sobre as coisas atuais que acontecem em um relacionamento abusivo, além de outras coisas”. Segundo ela, a iniciativa da equipe multidisciplinar “ajuda a formar seres humanos melhores”.
Conforme explica a aluna Daniele Rocha Lima, 17, estudante do 3.º ano do ensino Médio, “muitas meninas presenciam relacionamentos abusivos dentro de casa e, de uma forma inconsciente, a nossa criança interior acaba refletindo isso na nossa vida adulta, e quando não se tem ninguém para falar o que é certo e o que é de fato o amor, ou deixa de ser, você acaba entrando em relacionamentos onde não é somente anulada como pessoa, mas também é pressionada psicologicamente ou fisicamente”. Ela opinou que o relacionamento abusivo mais comum é o psicológico, “onde a pessoa te manipula, fala que vai te largar se você fizer algo e isso surge a partir de algo que nós já conhecemos; isso deve ser abordado para que haja uma visão ampla do que deve ser tratado como amor e o que não deve ser”.
Entre os atentos meninos que estavam presentes ao evento, o estudante Matheus Maurício, de 15 anos de idade, e que cursa o 1.º ano do ensino Médio, destacou a importância da iniciativa do “Juizado Maria da Penha” de levar a discussão da temática à sua escola. “Eventos como esses são importante para diminuir os casos que vêm ocorrendo de abusos físicos e morais e feminicídio, que vem aumentando. Quanto mais discutirmos assuntos como esses poderemos ter uma sociedade melhor”, disse o jovem.
Para a professora de Filosofia, Neiva Alfaia, receber o projeto “Maria Vai à Escola” foi de suma importância para que os jovens e adolescentes aprendam e recebam mais informações sobre relacionamentos, tanto com o parceiro quanto com a parceira, e entender que para esses tipos de violência há punições.
Conforme ressalta a mestre, “trabalhar a questão do combate à violência contra a mulher na escola vai fazer com que muitas mulheres adolescentes e jovens que estão sofrendo violência comecem a perceber como estão sendo tratadas e que elas consigam sair desses relacionamentos abusivos”.
Segundo a assistente social Celi Cavalcante, o objetivo do projeto “Maria Vai à Escola” é trabalhar com o público jovem no sentido de demonstrar que é neste espaço, às vezes, que a violência vai se estabelecendo e se instalando. “Os alunos participam e muitas vezes se identificam nesse contexto por já terem se relacionado ou terem visto alguém vivenciando algo que foi destrutivo muitas vezes na vida da pessoa. E que marca, a violência e o abuso marcam. Nosso propósito é dizer que há uma saída, existem caminhos, não é fácil, não há uma fórmula mágica, mas existem caminhos para que sejam rompidas essas relações abusivas”, explica a servidora do 1.º Juizado Maria da Penha.
A psicóloga Suzy Guimarães contou que o público-alvo escolar está dentro de uma idade considerada muito crítica porque é uma fase na qual os jovens abraçam tudo com muita intensidade, como as relações, sejam elas de amizade, de namoro.
“Trazermos essa temática que já é complexa, através da cartilha, para viabilizar essa discussão visando um diálogo construtivo, até porquê o início das relações amorosas na adolescência é marcado por declarações e juras de amor, mas há, também, a possibilidade desta mesma história ter a versão, também, de abusos físicos e psicológicos. E é uma fase na qual eles estão construindo sua identidade, seus desejos, e nós trazemos essa proposta de reflexão desta demanda de violência nas relações íntimas como o namoro. Nosso objetivo é trazer a reflexão, conhecimento, atitudes assertivas desse jovem, empoderar visando voz ativa nas relações. E é importante enfatizarmos que o conhecimento é uma ferramenta muito importante para gerenciar riscos como os que estão presentes nas relações íntimas e interpessoais”, analisou a especialista.
Programação
Dentro da programação da equipe multidisciplinar do “1º Juizado Maria da Penha”, nesta quinta-feira (18/8), acontecerá uma “Roda de Conversa” online com mulheres. E na sexta-feira, acontece outra roda de conversa, desta vez no formato presencial no próprio Juizado, que terá como público-alvo homens que estão em cumprimento de medidas protetivas.
Conforme Celi Cavalcante, no período de 22 a 24, as atividades do “Projeto Maria vai à Escola” e a exposição “Não Vista Essa Camisa” vão à Comarca de Presidente Figueiredo.
Paulo André Nunes
Foto: Chico Batata
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
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